quinta-feira, dezembro 11, 2003

Eu estava em São Francisco, a poucos dias do Natal. As lojas já começavam a ficar entupidas e multidões esperavam impacientemente pelos ônibus e bondes no fim da tarde.
Quase todo mundo carregava pilhas de pacotes, e o cansaço era tanto, que eu comecei a me perguntar se os inúmeros amigos e parentes mereciam mesmo aqueles presentes e tanto sacrifício. Esse não era bem o espírito de Natal que eu desejava.
Finalmente fui literalmente empurrada para dentro de um bonde superlotado, e a idéia de ficar ali como sardinha em lata até chegar em casa foi se tornando insuportável. O que eu não daria por um lugar sentada!
À medida que algumas pessoas foram descendo, consegui respirar melhor e comecei a notar os outros passageiros. Com o canto do olho, vi um menino pequeno, de pele escura – não podia Ter mais do que seis anos -, puxando a manga de uma mulher e perguntando: ‘’Quer se sentar?’’ Ele a levou até o assento vago mais próximo e partiu em busca de outra pessoa cansada. Assim que um cobiçado lugar surgia, ele rapidamente se enfiava em meio àquela massa humana para procurar mais uma mulher carregada de pacotes e levava-a até o assento.
Finalmente, quando senti um puxão em minha própria manga, já estava completamente fascinada pelo menino. Ele me pegou pela mão e com um sorriso do qual jamais vou me esquecer disse: ‘’Venha comigo.’’ Mal tive tempo de agradecer, pois ele já partia em busca de mais uma necessitada.
Os passageiros do bonde, que em geral viajavam olhando para a frente e evitando os olhares dos vizinhos, começaram a trocar sorrisos. Uma mulher comentou comigo o cansaço que sentia, e três pessoas se abaixaram ao mesmo tempo para apanhar um pacote que caíra no chão. Em pouco tempo, as pessoas conversavam. Aquele menininho havia realmente mudado alguma coisa – todos nós nos sentíamos envolvidos num sutil sentimento de aconchego e o resto do percurso foi puro prazer.
Não percebi o menino descer. Quando olhei, ele não estava mais ali. Quando cheguei ao meu ponto, saltei do bonde pisando nas nuvens e desejei sinceramente ao motorista ‘’ Feliz Natal’’. Pela primeira vez percebi como as casas de minha rua estavam lindamente iluminadas e pensei em reunir os vizinhos para um chá antes do fim do ano. Eu me sentia de bem com o mundo, feliz com os presentes que comprara e com a alegria que eles dariam.
E de repente o Natal deixou de ser uma estressante festa de consumo para adquirir seu verdadeiro sentido. Mais uma vez era um menino que, com seu gesto de amor, anunciava nossa verdadeira vocação.

( Autor Desconhecido )

Sem comentários: