História
Origens da Dança do ventre se perdem no tempo. Alguns historiadores apontam entre 7.000 e 5.000 A.C. Acredita-se que ela era praticada nas antigas civilizações como a suméria, acádia, babilônica e egípcia. No Egito a dança era realizada por sacerdotisas treinadas desde meninas para servirem como canal da Deusa nos rituais religiosos. A Dança do Ventre era realizada somente em templos, mas com o passar do tempo começou a fazer parte de grandes solenidades públicas nos palácios, o que fez com que ela se popularizasse. Com a invasão árabe muçulmana no século VII, ocorreu uma miscigenação de culturas e a dança se espalhou pelo resto do mundo através dos viajantes e mercadores. Atualmente as apresentações ganharam os teatros. O número de escolas especializadas na arte cresceu e os benefícios de sua prática começaram a ser mais difundidos. A Dança do Ventre sempre foi uma celebração à vida. Os seus movimentos são inspirados nos animais, nos quatro elementos e em toda a natureza. A mulher que é a intérprete desta arte milenar, deve transmiti-la com amor e respeito. A Dança do Ventre traz benefícios para o corpo e a mente: · Desenvolve a autoestima, · Estimula a memória, concentração e atenção, · Aumenta a confiança no seu potencial individual, · Resgata a feminilidade, · Ativa a circulação, aumenta os reflexos e alivia as tensões, · Aumenta a flexibilidade e alongamento, · Auxilia em problemas menstruais, hormonais e partos, diminuindo cólicas, equilibrando as funções sexuais e facilitando contrações e dilatações, · Trabalha músculos, enrijecendo e tonificando, · Atua diretamente no centro de energia do corpo, que se encontra no ventre, distribuindo a mesma de forma equilibrada, harmonizando os chakras.
Uma das mais antigas expressões da arte humana, a dança vem acompanhando a evolução da humanidade desde a sua pré-história. No que concerne às fontes utilizadas e sobre as quais nos baseamos para realizar o presente trabalho foram tomadas as estatuetas de argila (também conhecidas como "bonecas" de argila) encontradas em escavações arqueológicas realizadas no Egito e que trouxeram à luz do dia aspectos da pré-história.
Já com relação ao período histórico, foram analisados papiros, baixos-relevos, esculturas e pinturas. Diferentemente do que vem afirmando grande parte dos pesquisadores da dança do ventre, cremos que as suas primeiras expressões tenham surgido não no período faraônico, mas já na pré-história do Egito.
Situamos então este aparecimento nas culturas chamadas "Nagada II" e "Badari". A cultura "Nagada I" iniciou-se por volta de 4800 a.C., indo até 4000 a.C.; posteriormente surgiu a cultura "Nagada II" (4000 a.C. até 3500 a.C.) e depois "Badari" (3500 a.C. até 3100 a.C.). Lembramos ainda que 3100 a.C. marca já o aparecimento da primeira dinastia. As estatuetas de argila conhecidas como "bonecas" retratam uma forma feminina que tem os braços erguidos para o ar parecendo desenvolver um movimento ainda hoje em dia presente na dança do ventre; sua datação é de 4000 a.C., ou seja, na transição da cultura "Nagada I" para "Nagada II". Algumas destas estatuetas têm símbolos gravados no ventre, o que pode facilmente sugerir a caracterização ritualística destas peças. Estas "bonecas" de argila das fases "Nagada II" e "Badari" parecem desempenhar movimentos de dança com grande elegância. Destacamos igualmente os vasos de terracota da cultura "Badari" que tem gravados em seu bojo bailarinas com os braços erguidos cujo vestuário recorda a dança do ventre atual: as jovens vestem uma espécie de "tapa-sexo" sendo que por cima do mesmo é colocado um cinturão paramentado de vários tipos de contas que parece estar bem preso nos quadris. Acredita-se que estas estatuetas desempenhassem um importante papel em rituais sagrados de cerimônias míticas.
Tal afirmação tem apoio em costumes ainda hoje observados no Egito e que consistem em preparar "bonecas" de papel branco, colocá-las em recipientes onde são posteriormente queimadas. O objetivo de tal costume seria a cura de um doente e o afastamento do mau olhado, uma das principais causas, segundo a crença oriental, do adoecimento das pessoas.
Tal costume que ainda hoje se perpetua possui raízes antiqüíssimas. Desta forma, acreditamos ser viável a afIrmação de que a dança estaria ligada desde as suas mais antigas expressões ao elemento sagrado, ritualístico, mítico.
Não seria à toa então que as primeiras manifestações da dança do ventre no Antigo Egito estivessem relacionadas com rituais festivos. Cenas de dança foram representadas nas paredes de templos e tumbas datados do Médio e Novo Impérios onde é percebido de forma bastante clara a execução de movimentos perfeitamente idênticos àqueles hoje em dia incluídos nas performances de dança do ventre. Inicialmente as primeiras expressões da dança estavam intimamente ligadas ao canto e à musica dos instrumentos; os templos foram os primeiros espaços onde eram desempenhadas estas três formas de manifestação artística. Posteriormente estas atividades estenderam-se ao quotidiano dos faraós. As dançarinas que podemos ver em pinturas e baixos-relevos completamente nuas são identificadas por muitos pesquisadores da dança como bailarinas dos templos. No painel 58 do Museu de Luxor podemos observar a importância de músicos, cantores e bailarinos retratada em festas religiosas. Estes três elementos comumente acompanhavam comitivas que atravessavam ruas em comemoração a algum evento importante, assim por exemplo o transbordamento do rio Nilo, as colheitas, as coroações, os casamentos e as cerimônias de circuncisão. Nestas procissões eram os dançarinos quem iam abrindo o caminho sendo recebidos pelos sacerdotes e faraós com respeito e admiração. Um exemplo do caráter sagrado da dança na época faraônica são as dançarinas do deus anão "Bes". Aspecto de grande interesse para nós eram as tatuagens que estas dançarinas faziam em seus corpos onde era retratado um anão negro coroado com um diadema de plumas (Bes). Estas tatuagens possuíam um caráter sagrado e curiosamente eram feitas nas mesmas partes do corpo atualmente adornadas pelas dançarinas do ventre.
No Egito faraônico as apresentações de dança eram tão numerosas que, para fins didáticos, o pesquisador Shokry Mohamed as dividiu em quatro tipos principais:
1. As danças sagradas: realizadas em honra aos deuses
2. As danças laicas: que aconteciam em comemorações de caráter social (casamentos, festas em memória dos mortos)
3. As danças oficiais: eram realizadas em honra algum deus cujo culto possuía grande difusão no Egito e organizadas pelo faraó ou por seus sacerdotes e sacerdotisas.
4. As danças populares: também denominadas "civis" estas danças aconteciam em casas e palácios e eram realizadas por dançarinas e dançarinos a serviço dos senhores destas demoras.
Ora, em razão das relações comerciais que mantinha com outros "países", nada seria mais natural que acontecesse a difusão de conhecimentos egípcios para diversas partes do mundo antigo. Observamos, porém, que esta difusão não pode ser considerada como uma via de mão única; ao contrário, novas técnicas de cunho tecnológico, conhecimentos, bem como traços artísticos foram incorporados à cultura egípcia advindas dos impérios da Mesopotâmia, Creta e Grécia entre outros. Assim, por exemplo, temos conhecimento da fama de uma cantora egípcia chamada "Tantún" na Babilônia e na Assíria. Da mesma forma que na Grécia as canções egípcias eram ouvidas por todos
os lugares. Outro exemplo seria a difusão da dança chamada "Estrelada" considerada uma das mais antigas danças do Egito faraônico e que também era dançada nas civilizações persa, assíria e grega. De fato não há como negar a ocorrência da difusão da cultura egípcia no mundo antigo. A recíproca, devemos acrescentar, é mais do que verdadeira. Hoje em dia, da mesma forma que no passado, observamos que vários dos movimentos executados na dança do ventre têm origem diferente da egípcia. Assim, verificamos a presença da influência sudanesa, iraniana, turca, marroquina, grega e até mesmo espanhola. A cultura influencia e é influenciada.
- Adaptado por Anaita de Maire para Yayuny do Livro
La Danza Mágica del Vientre de Shorky Mohamed
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